quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Honduras - três meses sob Golpe de Estado

A comunidade internacional condena golpe e teme pela democracia no país. Leia as últimas informações e entrevista exclusiva com estudante hondurenha.
A cada dia Honduras tem sua democracia mais atacada. Hoje, quando completam três meses do Golpe de Estado, as duas únicas emissoras de rádio e TV que apóiam o presidente deposto – Manuel Zelaya – foram cercadas por militares.

O governo golpista de Roberto Michelleti editou um decreto (16/2009) restringindo a liberdade de expressão e manifestação permitindo a prisão de qualquer pessoa nos próximos 45 dias.. O foco da tensão na capital Tegucigalpa é a embaixada brasileira, onde está abrigado o presidente legitimamente eleito, Manuel Zelaya.

Michelleti deu um ultimato ao Brasil que entregasse o presidente deposto, o que foi rechaçado pelo governo brasileiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o país não acatará ultimato de um golpista, afirmando que não reconhece Michelleti como governo interino.

A polícia hondurenha está impedindo qualquer manifestação pública pró-Zelaya. Neste domingo, 27, foi enterrada uma jovem estudante, de 24 anos, morta por complicações no sistema respiratório após respirar gás lacrimogêneo lançado por policiais durante uma manifestação.

Atendendo a pedidos do presidente do Congresso hondurenho, José Alfredo Saavedra, preocupado com o acirramento do clima de tensão nos próximos dois dias, os seis deputados brasileiros que planejavam ir à Tegucigalpa hoje, adiaram a viagem para a quarta-feira.

Entrevista com estudante de Honduras
Leia a entrevista exclusiva com a estudante hondurenha Grecia Lozano, que conta sobre os momentos dramáticos pelos quais Honduras está passando desde o golpe militar impetrado há três meses, que arrancou do poder o presidente Manuel Zelaya, democraticamente eleito. Grecia Lozano é dirigente estudantil secundarista.

Qual a situação dos estrangeiros hoje em Tegucigalpa?

Na noite de sábado os golpistas determinaram a todas as embaixadas e representações diplomáticas que romperam relações com Honduras, que deixem o país. E que as que permanecerem no país serão obrigadas a credenciar todos os seus funcionários junto ao governo interino. Considero estúpido o que estão fazendo e peço desculpas pelo ato de meu país, que me deixa honestamente muito triste.

Sabemos que a situação política de seu país está extremamente conturbada. Qual é o clima agora na capital de Honduras?

É definitivamente macabro o que os golpistas estão fazendo. Estou bastante consternada como jovem, como hondurenha e principalmente como ser humano. Nesta segunda-feira tem inicio o momento mais difícil para o país. Se as embaixadas estrangeiras saírem de Honduras, a guerra está declarada.

Que notícias você tem da embaixada brasileira, onde está o Presidente Manuel Zelaya?

A situação é crítica para quem está na embaixada. Lançaram produtos tóxicos na água que serve ao prédio, com o objetivo de prejudicar a saúde de Zelaya. Uma fonte nos disse que o presidente ficou muito doente por causa da água contaminada – está até vomitando sangue-. Os produtos tóxicos são letais. O objetivo dos golpistas é obrigar o presidente a recorrer a um hospital ou clínica, e aproveitar o momento para prendê-lo.

Como a resistência está sendo tratada?

Tenho um tio que foi perseguido recentemente. Tentaram matá-lo, pois ele estava colaborando com a resistência. Foram momentos horríveis. Algumas pessoas contrárias ao golpe estão desaparecidas. Um senhor já ameaçou: se seu filho, que está sumido, não reaparecer nos próximos dias, ele garantiu que vai instalar explosivos no próprio corpo e fazer vigília em frente ao palácio do governo, onde está Roberto Michelleti (que assumiu a presidência após o golpe).

Ficamos sabendo por aqui que a mídia hondurenha também foi proibida de atuar...
Apenas dois veículos de comunicação não estão apoiando o golpe (são canais de televisão). O governo estava colocando bombas nas antenas de transmissão. As rádios que resistem também estão bloqueadas e as demais estão proibidas de divulgar qualquer coisa que remeta ao ato golpista.

E a juventude, como está reagindo?

Estou organizando uma frente de estudantes para nos unirmos à Federação Nacional dos Estudantes Secundaristas de Honduras (Fenaesh). A idéia é participar ativamente como uma organização de estudantes das passeatas e marchas contra os golpistas e também prestando primeiros socorros às vitimas que estão sendo violentamente reprimidas nas ruas. A polícia tem tratados os manifestantes como cães!

Estamos resistindo, mesmo preocupados com a saúde do presidente, mas sabemos que venceremos. Insisto à juventude de todo o mundo que não se cale diante deste governo fascista e militarista. Estou preocupada e não tenho idéia do que fazer. Não sei se saio gritando, se me vingo. Ficar nessa espera é horrível. Agradeço a todos por nos apoiarem e buscarem notícias de Honduras. Especialmente Brasil, Cuba, Equador, Nicarágua e Venezuela.
Fonte: www.une.org.br

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